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Por que cartas?
Há quem não entenda as cartas como forma agradável de comunicação entre pessoas, quase um presente - ainda mais nesses tempos de globalização onde a comunicação tem se tornado em tempo cada vez mais real.
As cartas seduzem porque é parte da expressão humana, são o espelho da alma de quem as escreve, quando as lemos somos remetidos à reflexão das situações, da época, das condições e os ambientes culturais das produções desses artefatos.
Ler cartas escritas em outros tempos significa penetrar na intimidade de seus autores, compreender os discursos que faziam de si mesmos e do mundo como um recorte muito particular das possibilidades de leitura dos homens e das coisas, além de conhecer a sociedade da época e seus costumes. Entretanto, lê-las com o intuito de compreender aquele que as escreveu, como produto e ao mesmo tempo, como agente histórico, não pode colocar de lado a compreensão do tempo e espaço como variações fornecedoras dos vínculos explicativos que compõe a essência do enredo de uma narrativa.
As cartas apresentadas aqui lembram-nos que toda a história foi feita por pessoas que em certas épocas estiveram vivas - ou ainda estão - pessoas que foram ardorosas, apaixonadas e cheias de emoções, emoções tão ternas que deixaram suas marcas, passaram de um meio de expressão pessoal ao campo artístico, algumas das personagens dessas mensagens são famosas, outras não, mas o importante mesmo é o afeto.
Meu Avô contava-me que o meu bisavô - que não cheguei a conhecer - e que foi diretor de cena em um teatro da Europa, dizia que um ator atingia seu apogeu quando inspirava pessoas. Dessa maneira, este Blog contém a mesma ideia, se conseguir inspirar as pessoas durante sua leitura, atingirá o zênite.
Desejo a todos que passarem por aqui, momentos de emoções diversas.
Anna Garcia

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

O Fogo da Amizade


Europa, Suíça, Berna, Ostring, 5 de agosto de 1946,
segunda-feira de manhã, 10 horas menos 10 minutos

Fernando,
recebi carta daquela moça Diva, lembra? e ela me mandou seu artigo "O Sentimento e a Palavra", que assim  recebi pela segunda vez. Li de novo e fiquei tão contente... Foi de novo uma carta sua, e uma conversa. Fiquei animada, não importa que daqui a pouco acabe e que eu vá com alma morta para a costureira... O que importa é que fiquei como estou agora, bem na primavera. De repente me pareceu que eu devo continuar a trabalhar, que tudo está ruim, mas que é sempre assim mesmo, que as coisas são desconhecidas até que rebentam numa conhecida, a pessoa está só no mundo de modo que deve tomar certas providências urgentes de silêncio e meditação, já que não se sabe nem se pode agir, e que de vez em quando a gente pode receber este presente gratuito que é a palavra amiga de um amigo, e suponho que há compensação e não vejo por que ela haveria de ser maior - esta já é grande e é mais do que se merece. Assim, mando depressa este momento de felicidade para você, e espero que ele vá incendiando papéis e ervas por onde passar e quando chegar a Nova York vá subindo em fogo rasteiro as escadas e chegue junto de Helininha de Tróia e de Fernando, o Sabino, num grande fogo de amizade. Amém.
                                                                                                                                                    Clarice

Referencia Bibliográfica:
SABINO, Fernando - Cartas perto do coração - 6ª ed. - Rio de Janeiro: Record, 2007


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